quarta-feira, 4 de julho de 2012

Política e Espiritualidade

Parábola do mordomo infiel

 ”Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se na riqueza injusta não fostes fiéis, quem vos confiará a riqueza verdadeira? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque, ou há de aborrecer um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e  a  Mammon."

S. Lucas  16 - 10 a 13



Esta parábola é bem significativa no que diz respeito ao que é realmente a honestidade. Isso porque, se a pessoa não começar por ser honesta agora nas pequenas coisas da vida, como poderá sê-lo amanhã, nas de maior importância? A escola da vida, aliás, nos ensina isso a cada momento, nas coisas mais simples.

Por exemplo, um mecânico não poderá inspirar confiança se não unir aos seus atos a virtude da honestidade. Primeiramente, para alguém se apresentar como um bom mecânico, precisa provar, pelo seu ofício cotidiano, que realmente conhece mecânica. Tantas vezes foi solicitado a prestar serviço nessa profissão, que acabou inspirando confiança aos seus clientes.

Um médico que, por várias vezes, conseguiu curar seus pacientes, acaba por se impôr no bom conceito de seus conhecidos.

E de tal modo estamos enredados aos nossos atos que nos tornamos conhecidos neste ou naquele aspecto de nossa vida, nesta ou naquela atividade a que nos dedicamos, inspirando confiança ou desconfiança aos outros consoante à competência e  técnica, ou à inépcia e descuido com que agimos. Teremos um bom conceito moral se por diversas vezes sustentamos uma conduta irrepreensível e honesta. Teremos um bom conceito nas nossas palavras escritas, no que ao conhecimento da língua concerne, se, por exemplo, vos tornardes conhecidos pelos vossos trabalhos jornalísticos, pela vossa atuação através da oratória, pela vossa produtividade literária, pelas aulas que tiverdes dado nesse particular.

Sereis tidos e havidos como Humanus e não como uma pessoa covarde e ambiciosa, se durante a vossa vida tiverdes dado sempre provas de que realmente tem hombridade e sois criaturas devotadas ao trabalho direcionado ao engrandecimento de uma Obra Maior. E assim por diante, sereis reconhecidos pelo que são em vossa maneira de ser, em vosso procedimento constante, em vosso "modu vivendi" de longos anos. "Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito". Na verdade não podemos ser uma coisa aqui, e outra ali. O homem é o homem neste ou naquele setor, nesta ou naquela circunstância, porque tem a norteá-lo o caráter, e o caráter o define, por certo. Um verdadeiro discípulo espiritualmente honesto para com o seu Mestre, será capaz de conquistar a confiança deste, que o fará tarde ou cedo, partícipe responsável de sua Divina Missão. Mas independentemente de qualquer retribuição que lhe possa vir da parte deste, um discípulo se acostumar a ser fiel nas pequenas coisas equivale a formar seu caráter numa base sólida e reta, e a sinceridade com que age em sua vida lhe fornecerá os elementos que irão constituir um respeitável caráter.

Um caráter bem formado, ou seja, um coração nobre e uma inteligência lúcida, poderão coroar a vida de um homem em atividades de maior importância para as quais for chamado a desempenhar. Tendo caráter firme e honesto, estará bem escudado em qualquer parte, terá probabilidades de êxito em qualquer atividade a que se entregar, pois tudo que fizer, fará de coração e verdade.

Devemos, assim, ter mais cuidado em assumirmos compromissos que não possamos cumprir. Faltando a um compromisso assumido, já lançaríamos a semente da dúvida naqueles que esperam da nossa parte o cumprimento fiel da palavra empenhada. Isso traria decepção, naturalmente, e nos envolveria no mau conceito, pois realmente desapontaríamos os outros cada vez que deixássemos de cumprir o prometido.

Faz falta em nossos dias tal conduta, principalmente nos homens que recebem a responsabilidade de zelar pelos bens comuns. Para merecerem o bom conceito de quem lhes delegou poderes e responsabilidades, devem pôr-se à altura do mandato, cumprindo fielmente os deveres assumidos para com os seus representantes, prestando-lhes contas de seus atos, agindo sempre em benefício das causas justas e honestas, tendo atitudes que visem sempre ao bem-estar dos demais, impondo-se, destarte, ao bom conceito daqueles que neles depositaram confiança. É neste sentido que interpreto o merecimento. O merecimento, aliás, é o fruto duma atuação sincera e honesta em benefício do bem comum, visando sempre melhores condições e maior grandeza no verdadeiro sentido da palavra. Apoiar sempre o que for bom, justo e razoável, faz com que o responsável se imponha cada vez mais no bom conceito dos seus irmãos.

E é interessante notar a relação íntima que existe geralmente entre a fidelidade num e noutro lado da vida. Quem não for capaz de ser fiel no que tange à nossa vida material e administrativa, muito menos o será nas coisas que dizem respeito à vida espiritual, num campo de maior transcedentalidade. Primeiramente, havemos de provar nossa firmeza e segurança no tocante às coisas mais objetivas, antes de podermos tentar ser senhores em questões de ordem espiritual. O nosso caráter terá que se firmar na verdade, primeiramente aqui, no que está mais ao nosso alcance e no trato diuturno, para depois prosseguirmos com este trabalho em planos de matéria mais sutil e rarefeita.

Isso porque, se não formos capazes de concentrar o nosso espírito em assuntos de natureza prática, dificilmente poderíamos fazê-lo nos que transcendem o plano físico. Por isso, estamos situados na melhor escola que a vida nos poderia proporcionar, e aqueles que confiam numa vida superior, confirmada nesta escola de Mistério que é a União do Vegetal, não devem subestimar os valores altamente educativos que a escola do nosso mundo nos proporciona, a fim de poderdes servir-vos de todos os momentos e de todas as ocasiões para construírem vosso caráter em fundamentos nobres, verdadeiros e belos.

Havemos, pois, de ser honestos em todos os nossos atos. Isto nos dá trabalho, na verdade. Mas, que é que havemos de conquistar, de bom e durável, que não nos dê trabalho? E haverá alguma coisa digna e valiosa que possa ser alcançada sem trabalho árduo e perseverante?

Os trabalhadores de todas as áreas não deveriam visar apenas lucros. Deveriam, outrossim, trabalhar tendo em vista a formação de seu caráter numa base superior, servindo-se das oportunidades que a vida lhe proporciona a fim de bem servir os seus irmãos, pois a qualidade do serviço terá que ser aplicada amanhã noutros setores da vida, conforme as qualidades que, através dele, houver acrescentado em seu caráter.

O serviço prestado carinhosamente aos seus irmãos deveria ser a norma de todos os homens. Não deveriam preocupar-se somente com os resultados aparentes de sua atividade, visto que os mesmos não passam dum pretexto, duma condição externa, estabelecida entre os homens para prestação de serviço entre si. O essencial, o que importa verdadeiramente é o espírito com o qual realizamos nossas atividades, pois ele é o indicador da natureza de nossas ações: se são estritamente egoístas ou se tendem para uma aspiração de ordem superior e altruística.

São Paulo disse: "Seja o que for que fizeres, faze-o como se fôra para o Senhor, e não para os homens." Ou então, "em qualquer coisa que fizeres, põe toda tua força." Isso significa que, ao executarmos qualquer ato, devemos empregar nele nosso corpo e espírito.

Caros leitores, se cada homem fosse mais honesto, mais fiel para consigo mesmo, para com os seus semelhantes e para com Deus, que melhor se exprime pela atuação da Lei de Causa e Efeito, a Boa Lei, que sempre retribui justamente a todos os atos, maus ou bons, tudo presidindo sob os auspícios de uma Lei imutável e impessoal; teríamos já, aqui na Terra, o reinado de um mundo melhor, mais amigo e mais humano. Reinado este no qual, talvez, o espírito da Irmandade pudesse inspirar os homens em suas atividades benéficas e fraternais, por serem todas elas calcadas e inspiradas na idéia da União, da perfeita União e da boa vontade entre todos.

 O Mestre

Publicado no Portal http://www.geh.com.br/phpBB2/files/espiritualidade.html

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